salas de cinema

Os cinemas e auditórios programados pela SAC, desde 1962, sempre foram reconhecidos como singulares centros de formação cultural. Gerações de artistas, intelectuais e cinéfilos frequentaram esses espaços e puderam conhecer e tomar gosto pelos filmes de arte e, ao mesmo tempo, reconhecer a importância da Cinemateca Brasileira e seu acervo-repertório na formação de uma sólida cultura cinematográfica.

As programações eram viabilizadas com cópias adquiridas pelos distribuidores comerciais; do acervo da própria Cinemateca e de outras instituições, em especial aquelas ligadas à Federação Internacional de Arquivos de Filmes (FIAF); e de consulados e embaixadas. Era comum a edição de catálogos críticos para as principais mostras. Esse foi o modelo praticado por mais de cinco décadas, com variações próprias de cada época e de cada sala programada pela SAC e pela Cinemateca.

histórico das salas (1962-1997)

Cine Coral

Projetado pelo arquiteto Túlio Ficarelli, o cinema foi inaugurado em 1958. De propriedade da Áurea Filmes, integrado ao Circuito Serrador, a sala possuía capacidade para aproximadamente 1.000 espectadores. Localizava-se na rua Sete de Abril, n. 381, República, e seu entorno reunia outros importantes equipamentos de cultura e entretenimento. 

A proposta de seu criador e programador, Dante Ancona Lopez, era oferecer filmes de arte – “que geram polêmica, que possuem um valor estético e apresentam um testemunho político-social”. Em poucos anos, o Coral estabeleceu e consolidou o conceito de cinema de arte e estendeu seu modelo a outras salas do circuito paulistano. Entre os destaques de sua programação: ciclos de filmes italianos, franceses, poloneses e soviéticos. Foram promovidas grandes pré-estreias, como Harakiri, de Masaki Kobayashi; Todo o ouro do mundo, de René Clair; O ano passado em Marienbad, de Alain Resnais; além de exibições especiais, com destaque para os filmes do emergente Cinema Novo. De 1962 a 1966, o Coral abrigou também a sede da SAC e sua galeria de arte.

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Cine Picolino

Inaugurado em 1955, a sala era propriedade da empresa Rilo de Cinemas e Hoteis S.A. e também integrava o circuito da Cia. Serrador. Em 1965, Dante Ancona Lopez havia voltado de uma longa viagem ao redor do mundo (financiada com o sucesso do Coral) e foi convidado pela Serrador a recuperar o cinema de 850 lugares, localizado na rua Augusta, n. 1513. Nessa empreitada, contou com o apoio fundamental de Rudá de Andrade, Conservador-Adjunto da Cinemateca.

A partir de março de 1965, a Serrador e a SAC passaram a programar as atividades do Picolino. Para inauguração dessa nova fase foi lançado filme italiano Os Amantes de Florença (1954), de Carlo Lizzani, com Marcelo Mastroiani no elenco. O evento mereceu um elogioso artigo de Glauber Rocha no Diário Carioca.
As programações mantiveram a linha curatorial que vinha desde o Coral: filmes clássicos, obras de diretores de vanguarda, sessões acompanhadas de debates. O slogan Espetáculo, Polêmica e Cultura reforçava o perfil da sala como um espaço de estímulo mais amplo à cultura cinematográfica.

Na programação do Picolino destacavam-se lançamentos de filmes de autor americanos como Mickey One, de Arthur Penn, e de O homem do prego, de Sidney Lumet. O Picolino apresentava mostras de cinema novo internacional, em que se exibiam pela primeira vez no país Os subversivos, dos irmãos Taviani, Antes da revolução, de Bertolucci, O vermelho e o negro, de Miklós Jancsó etc. Era o auge da cinefilia. Em pouco tempo, o sucesso do Picolino despertou o interesse da Metro-Goldwyn-Mayer que exigiu e obteve da Cia. Serrador a inclusão da sala em sua programação. Essa era prova do sucesso da fórmula desenvolvida por Dante Ancona Lopez: ele assumia uma sala em crise de público, dava a ela um perfil diferenciado, “esquentava” sua bilheteria com filmes de arte e ela retornava ao circuito normal.

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Cine Scala

O Scala, localizado na rua Aurora, n. 720, Santa Ifigênia, foi inaugurado em 1962. No ano seguinte, um incêndio destruiu suas instalações. A partir de 1965, já recuperado, passou a integrar o circuito de cinemas de arte da Cia. Serrador, acolhendo as programações da SAC, em paralelo às atividades do Picolino. Em 1975 foi reinaugurado sob o nome de Belas Artes Centro.

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Auditório do Museu de Arte de São Paulo

A partir de um convênio firmado no final de 1962, a SAC passou a formatar atividades para o auditório do MASP. Segundo o Termo de Convênio, seriam promovidos ciclos e festivais, com a exibição de “filmes clássicos, filmes de importância histórica, filmes representativos de tendências modernas; pré-estreias de filmes que tenham credenciais artísticas; sessões de pesquisa histórica e estudos com fragmentos de filmes [e ainda] cursos, debates e conferências sobre a história do cinema e outros problemas ligados à cultura cinematográfica.

No início de 1963, foram feitas reformas nas instalações e adequação das cabines de projeção. O auditório funcionava na rua Sete de Abril, n. 230, prédio dos Diários Associados, local da primeira sede da Cinemateca, destruída pelo incêndio de 1957. Em março, na solenidade que marcou o início das atividades da SAC no Museu, foi apresentado o filme Harakiri, de Kobayashi, que um mês depois seria exibido em Cannes como representante oficial do Japão. Discursaram Dante Ancona Lopez, o Cônsul-geral do Japão e Pietro Maria Bardi.

O convênio com o MASP deu um grande impulso às atividades da SAC, em paralelo ao que era feito nos cinemas Coral, Picolino e Scala. De 1963 a 1967, foram realizados diversos eventos, entre eles: Semana do Cinema Brasileiro (1963), apresentando Porto das Caixas, Garricha, alegria do povo e Vidas Secas; I Festival Brasileiro de Cinema de Publicidade (1963). E ainda, Festival Western (1965) e Panorama do cinema jovem espanhol (1967). O primeiro curso realizado intitulava-se O gosto pelo filme e sua história (1963), com aulas de Paulo Emílio Sales Gomes, Jean-Claude Bernardet, Fernando Birri, Rudá de Andrade, Edgard Carone, entre outros.

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Belas Artes

Em 1967, após recuperar o Picolino para a Metro, Dante Ancona Lopez e a SAC fecharam acordo com a Cia. Serrador para assumir por 5 anos a administração e a curadoria do Cine Trianon (de propriedade da família Azer Maluf). Localizado na Rua da Consolação, n. 2423, quase esquina com a Avenida Paulista, o cinema foi projetado e construído pelo arquiteto Giancarlo Palanti. Sua inauguração ocorreu em 1943, como Cine Ritz e, em 1956, passou a se chamar Cine Trianon.

No primeiro semestre de 1967, o imóvel foi reformado com o apoio da Associação Brasileira de Desenho Industrial. Além da sala de projeção com lotação de 1.200 lugares, o imóvel abrigaria também a nova sede da SAC, que contaria com uma secretaria, uma biblioteca e uma galeria de exposições.

Em 14 de julho de 1967 foi inaugurado o Cine Belas Artes, com a exibição da comédia Os russos estão chegando, de Norman Jewison, indicado a quatro categorias do Oscar e ganhador do Globo de Ouro de melhor comédia. A pretensão inicial era contar com um filme de autor, mas a Serrador preferiu algo mais comercial para a inauguração. Além de programações comerciais e das sessões especiais transferidas do Picolino, o Belas Artes acolheu outras manifestações artísticas (apresentações musicais, peças teatrais e exposições), buscando se tornar um “verdadeiro centro de cultura”. O lema Espetáculo, Polêmica e Cultura foi incorporado à marca do novo cinema.

Na primeira fase do Belas Artes exibiram-se filmes de François Truffaut, Alain Resnais, Federico Fellini, Pier Paolo Pasolini, Antonio Pietrangeli, Kenzo Mizoguchi, Carlos Saura, Luis Buñuel, Milos Forman, Francis Ford Coppola, King Vidor, Joris Ivens, Fritz Lang, Costa Gavras, entre outros grandes diretores. O I Festival Internacional do Cinema Novo (1969), em colaboração com a Fundação Bienal de São Paulo e a Cinemateca Brasileira, foi um dos principais eventos do período. Da programação mais ampla, há registros para o ano de 1968 de shows com Geraldo Vandré e Sérgio Ricardo; e de apresentações da Juventude Musical de São Paulo. 

Em 1970, o Belas Artes foi dividido em duas salas, como era usual na época. Ao balcão foi atribuído o nome de Cândido Portinari e o salão do térreo, de Villa-Lobos. Em 1972, ganhou uma nova sala no subsolo, Mário de Andrade, pequeno espaço de 80 lugares que concentraria, até 1976, as programações especiais da SAC, coordenadas por Bernardo Vorobow.

Cine Belas Artes - 1967
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Sala Cinemateca

A Sala Cinemateca instalou-se na rua Fradique Coutinho, n. 361, Pinheiros, local onde funcionou o Cine Fiammetta (“O cinema elegante de São Paulo”) e o Studio ABC, a partir de 1982. Em 1988, a SAC foi reativada para viabilizar projetos da Cinemateca. O primeiro deles seria a implantação da nova sala de cinema na zona oeste de São Paulo. Com patrocínio do Banco Nacional e apoio da Gradiente, da Osram e da Fotóptica, a Sociedade Amigos da Cinemateca executou a reforma do antigo Fiammetta e sua adequação ao perfil técnico da Cinemateca. O projeto ficou a cargo do arquiteto Walter Ono.

Na inauguração, em 10 de março de 1989, foi exibida a versão restaurada de A paixão de Joana D’Arc, de Carl Theodor Dreyer; mesma obra projetada à época da inauguração da Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo (embrião da Cinemateca Brasileira). O filme integrava o ciclo inaugural da sala, intitulado Cinemateca 40 anos, composto por obras expressivas do acervo da instituição.

A sala tinha 350 lugares e contava com um café, uma livraria, um hall decorado com fotografias de cinema e cabines nas quais eram exibidos trechos em vídeo de filmes do acervo. Um gongo anunciava o início de cada sessão e a presença do pipoqueiro na porta era o termômetro da audiência.
Entre as programações de maior destaque: Mostra de chanchadas; Tesouros do Cinema Japonês, a partir da coleção do antigo Cine-Niterói; Mostra Vera Cruz, exibida com sucesso no Festival de Biarritz em 1996; Mostra Alberto Cavalcanti, marcando o centenário de nascimento do diretor; Lançamento de ABC da greve, de Leon Hirszman, concluído pela Cinemateca após a morte do cineasta. E ainda, mostras de grandes diretores internacionais como John Ford, Fritz Lang, Dziga Viértov, Marco Ferreri, Max Ophüls e Tarkóvski, com cópias oriundas da Cinemateca Uruguaia. As sessões dessa mostra eram tão concorridas que as filas davam a volta no quarteirão.

Duas retrospectivas de enorme repercussão foram organizadas com o apoio da Fundação Japão. Dedicadas a Yasujiro Ôzu e a Kenji Mizoguchi, movimentaram a cidade na década de 1990. Na de Ôzu, o público exigiu uma sessão extra todo dia durante uma semana, que se iniciava às 23h. A mostra Ôzu atraiu 8 mil espectadores e a dedicada a Mizoguchi, 5 mil. Por ocasião dessas mostras, a Cinemateca Brasileira publicou duas antologias críticas, ambas a cargo de Lúcia Nagib: Ôzu, o extraordinário cineasta do cotidiano e Mestre Mizoguchi, uma lição de cinema. Os dois livros permanecem como referência na bibliografia de cinema no Brasil.

A Sala Cinemateca encerrou suas atividades em 1997 com a Homenagem aos 25 anos do Festival de Cinema de Gramado. A partir de então, a Cinemateca Brasileira contaria com uma sala própria instalada em sua sede na Vila Clementino (Sala Cinemateca-Petrobras), cuja programação foi assumida diretamente pela instituição.

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